sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Minas de San Francisco, p.318

«Aos poucos, ia ficando velho, gasto e vencido. Aos poucos, a sua terra era apossada pela avalanche bruta, a família desmanchava-se, cada vez mais longe da tradição, o filho era um criminoso e um estropiado para o resto da vida. A mina cravara-lhe um ferro mortal. Estava gasto e vencido. San Francisco afundava-se também, lentamente, como se pairasse sobre ela uma maldição. A mina servira de cova para muitos, e para outros acenava-lhes agora com os caminhos já percorridos; muitos conheciam agora o jeito de vagabundos e ladrões. O cheiro da terra faminta de amor e sementes não encontrava sentidos que o percebessem. Ele, velho, morreria em breve, depois de ter assistido ao fim da sua luta e das ilusões de milhares de esfomeados: ninguém mais, em San Francisco, aprenderia a colher esse flutuar de seiva sobre os campos ao abandono. A mina estava perdida, mas ficava a sua obra de morte e desolação.»



Fernando Namora, in Minas de San Francisco (Coimbra, 1946)

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