sábado, 8 de outubro de 2011

Os Adoradores do Sol, p.35-36

«O avião, de asa larga, paira sobre um viveiro de ilhéus, sugerindo estilhaços da costa que um cataclismo tivesse feito explodir. Uma costa franjada por cinzel duro, que esqueceu as areias, o debrum de indolências que fosse entorpecendo o mar no seu encontro com a terra. As florestas e os campos, que lá do cimo parecem um forro de musgo, nascem das águas e logo tomam conta da paisagem, não lhe consentindo que se desnude, embora se interrompam mais amiúde que na Finlândia, para dar vez aos celeiros, ao casario insulado, às quintas ajardinadas, donde de quando em quando rompe o dedo fumarento de uma chaminé, pois aqui a indústria convive com a lavoura. Mas esses casais, no seu voluntário isolamento dos povoados, em nada semelham a província bisonha, de crosta fechada à civilização, dos países onde esta mora nas cidades.»



Fernando Namora, in Os Adoradores do Sol (Lisboa, 1971)

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