sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As Sete Partidas do Mundo, p.60

«O passeio ficou combinado para o domingo seguinte. Semanas antes, porém, João Queiroz mostrara-lhe desejos de qualquer coisa. Qualquer coisa que os seus lábios não ganhavam forças para dizer. Saía todos os dias de casa com a resolução: “É hoje!, é hoje!”, mas junto dela todas as resoluções caíam por terra. Maria Leonor encorajava-o, fazia beicinho, ameaçava-o com castigos. Pedia, pedia. Numa tarde, debaixo de chuva torrencial, chegara a acompanhá-la, a pé, até junto de casa, na esperança de que, no derradeiro minuto, a coisa se resolvesse. Em vão: ainda ficaram uns momentos, apertadas confiadamente as mãos, e a chuva caindo, caindo sem descanso. Desistiu. Tornou para casa, os cabelos empastados escorrendo-lhe água para os olhos, sem um milímetro de corpo enxuto, resfolegando de cansaço e aflição.»



Fernando Namora, in As Sete Partidas do Mundo (Coimbra, 1938)

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