sábado, 8 de outubro de 2011

Estamos no Vento, p.84-85

«- Avô, que é ser escritor? Repito a resposta que te dei há pouco: - É pôr aqui no papel o que precisamos de dizer às pessoas. E depois, perguntarás. Depois cada um lerá no que escrevemos mais ou menos o que lá deseja encontrar. A simpatia ou a antipatia vêem coisas diferentes nas mesmas coisas. E todo o escritor escreve para quem o ama e para quem o detesta. A partir de certa altura, como um céu tempestuoso serenado na distância, tudo isso, aliás, se desvanece: o escritor vai sentindo que a sua porfia é fundamentalmente uma aposta no futuro. Que tem isso a ver com os provos? É que, no clamor contra a poluição, pensava-se não só na ambiência física mas igualmente na mental. A cultura pode ser tão poluidora quanto a indústria. Camus definiu o fascismo como “desprezo”. E há desprezo quando as élites, voltando costas à revolução democrática das massas, se acham detentoras da verdade, num autoritarismo que é totalitarismo de opinião.»



Fernando Namora, in Estamos no Vento (Lisboa, 1974)

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