sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Resposta a Matilde, p.23-24

«Sim, em seu nome. A vida do nosso protagonista é chata, chatíssima (o leitor já a conhece), como repetitivo e descolorido é, afinal, o quotidiano do Café Estrela, por muito que lhe mudem os figurantes. Alguma coisa, pois, deverá acontecer; a partir de agora o palco terá de agitar-se. É preciso que, propostos os actores e esboçada a cena, desencadeemos uma intriga. E a balzaquiana é, naturalmente, o ingrediente clássico para que estes fios teçam uma meada que, enredando o nosso herói, lhe espevite os dias baços. Conto, porém, com a colaboração do leitor. Estou à margem, estamos à margem – mas desde o princípio que a minha ideia era enfiarmo-nos na pele desta gente, mexer-lhe os cordelinhos. E então ponho-me mais uma vez a exercitar a fantasia: quando o nosso matemático que nem sequer tem pinta de aluado, a viu pela primeira vez no café, o que mais o impressionou foi o porte da mulher.»



Fernando Namora, in Resposta a Matilde (Lisboa, 1980)

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